Caras e caros participantes na tertúlia sobre “Os católicos na luta contra a Ditadura” Não podendo estar entre vós neste momento, saúdo esta iniciativa do movimento Não Apaguem a Memória e do Instituto S. Tomás de Aquino, dada a importância histórica dos acontecimentos de que se ocupará, que estão a cair no esquecimento.
Quando Salazar chegou ao poder, primeiro como Ministro das Finanças e pouco depois nomeado Presidente do Conselho, recebeu o apoio massivo dos católicos, o qual persistiu durante muitos anos, apesar do carácter cada vez mais ditatorial do regime. Isso terá porventura acontecido por causa do poder que a Igreja deteve em Portugal durante séculos, que apenas começou a ser contestado após a instauração da República em 1910. Só assim se pode explicar esse apoio à ditadura salazarista durante tanto tempo e a sua indiferença perante os meios da repressão que o regime impunha e que se sobrepunham, por vezes, à própria Igreja.
De entre estes meios repressivos, os mais cruéis foram sem dúvida a polícia política, que chegava a exercer o seu domínio sobre as direções de todos os grupos de carácter associativo, incluindo os sindicatos de trabalhadores (eu próprio fui por 2 vezes excluído da direção do Sindicato dos Arquitetos, apesar de eleito para o cargo), e a censura totalitária que abrangia todo o tipo de publicações e ações culturais. No que respeita à censura, a atividade era tão despudorada, que todos os jornais publicavam na primeira página um pequeno retângulo onde se lia “Este número foi visado pela Comissão de Censura”. A POLÍCIA POLÍTICA Quanto à polícia política eram conhecidos os vexames e as torturas por que passavam anualmente centenas de cidadãs e cidadãos. Perante esta situação ditatorial que durou mais de 4 décadas, a esmagadora maioria da população, que se dizia católica, permanecia de braços cruzados, incluindo o Episcopado, que se mantinha solidário com o regime, não ousando exprimir qualquer crítica ou, sequer, dúvida.
Foi neste quadro que o então Bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, escreveu em 1958 uma carta a Salazar na qual denunciava alguns aspetos da situação. Este documento que, evidentemente, não pôde ser publicado em qualquer órgão informativo, levou alguns católicos, que entretanto haviam começado a denunciar os crimes do salazarismo, nomeadamente no seio da chamada Ação Católica, a organizar ações de protesto, através de encontros e publicações clandestinas, assim como de cartas abertas e abaixo-assinados públicos. Entre todos, não posso deixar de citar o P. Abel Varzim e o Engº. Francisco Lino Neto, e ainda minha mulher Maria Natália Duarte Silva, que participou ativamente em todas estas iniciativas. Mais tarde, na década de 1960, o foco passou a ser a denúncia da guerra colonial, vista como uma injustiça intolerável que atingia o povo português e os povos africanos sob dominação portuguesa e que constituía o “calcanhar de Aquiles” do regime.
A luta pela paz, vivificada pelo Concílio Vaticano II e pelas novas responsabilidades reconhecidas aos leigos na Igreja, tornou-se central no pensamento e nas atividades dos então chamados “católicos progressistas”. A ação dos católicos na luta contra a Ditadura foi-se progressivamente ampliando, ao longo dos anos, sendo uma das suas mais interessantes características o facto de ter construindo pontes com muitos outros setores da sociedade portuguesa – trabalhadores, intelectuais, estudantes - independentemente das suas crenças religiosas. Talvez por esta razão, o seu impacto foi muito além do que o número de pessoas realmente envolvidas o poderia fazer supor.
Nuno Teotónio Pereira
Lisboa, 16 de fevereiro de 2014
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