Sindicalismo
DEBATE S0BRE 0 FUTUR0 DA DEMCRACIA- A AUTOGESTAO!
Existe uma concepção desviante da auto-gestão que se prende apenas com a forma organizativa
do trabalho, através da qual se pretende tão só equacionar a forma como o trabalhador encara a sua relação com a actividade laboral, sem colocar em causa a essência da exploração e do domínio desta organização social, ou seja, a hierarquia e o trabalho assalariado. Através deste processo, os trabalhadores, mantém as diferanças e a hierarquia laboral mas, participando nos processos produtivos e organizativos, são estimulados para um maior empenhamento na sua actvidade, preocupados com os resultados e os lucros, numa visão empresarial, o que tem como resultado explorarem-se a si mesmos.
Esta metodologia tem sido utilizada em varias situações e países, sem por mínimamente em causa a organização da exploração laboral, o domínio do capital e o seu paradigma de topo, isto é, a obtenção do máximo lucro. É o que se passa nalguns sectores e em certos países de capitalismo maduro, como a Suécia. Ora, na verdade, a autogestão de facto, tem de constituir muito mais do que a gestão das formas técnicas existentes e só existe quando um trabalho se transforma numa actividade livre e criativa. Um processo autogestionário tem necessariamente de apontar para esse objectivo.
Na auto-gestão existe coordenação de actividade mas não autoridade, e a organização é algo muito diferente da hierarquia, que tem de ser banida neste processo. E, quanto aos métodos de organização, essenciais nesta sociedade, sempre baseados no domínio de uns, a maioria, pelos outros, a minoria, serão substituídos pelo acordo livremente determinado.
Tem de se considerar que as unidades de produção e de serviços, tal como existem, constituem escolas de hierarquia, de autoridade e de submissão e não de emancipação. Reproduzem constantemente a submissão dos trabalhadores e a incapacidade deles mesmos em superarem o estreito domínio da necessidade a que se encontram sujeitos. É a necessidade do trabalho, do salário, de onde resulta a sua manutenção, que os conduz à aceitação da opressão.
É indispensável ter em consideração que a técnica, que inclui as técnicas organizativas e administrativas, não é neutra, é um mecanismo altamente maleável ao serviço dos interesses dominantes. Tem de se considerar igualmente que essa mesma técnica, seja qual for a forma sob que se apresente, se encontra mergulhada num universo social e condiciona o conjunto das intenções, das necessidades, dos desejos e das interacções. Não é de mais lembrar que a autonomia e a auto-gestão não podem ser consideradas apenas como como componentes da lógica industrial, do produtivismo e do económico. Uma fábrica, uma grande exploração agrícola, ou outras, não se tornam espaços de liberdade e de criatividade apenas por serem nacionalizadas ou terem controlo operário. Um processo de auto-gestão de facto tem de se articular com outras unidades nas mesmas condições. A colaboração entre unidades em auto-gestão é absolutamente indispensável para que a auto-gestão resulte.
O caminho para a auto-gestão generalizada constituirá uma saída deste modelo de organização social em que (sobre)vivemos e apontará para um novo rumo, para uma nova organização social. Numa perspectiva autogestionária, todas as hieraquias terão de ser eliminadas e é indispensável ter em consideração que, seja qual a forma sob a qual se apresente, a hierarquia tem um âmbito muito mais amplo do que o domínio de classe. Como são os casos, por exemplo, da hierarquia do género, da etnia e do conhecimento. Num processo de auto-gestão todas as hierarquias terão de ser erradicadas. É absolutamente necessária uma mudança social profunda, que terá de incluir a auto-gestão generalizada e a democracia directa, e que será o resultado de um processo social e não de vanguardas que definem as “mais revolucionárias tácticas e estratégias” Só através de uma transformação social completa poderemos caminhar para uma sociedade livre e realmente autogerida.
j.Luis Félix-Tertúlia Liberdade
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