RESISTÊNCIA À DITADURA (II)
Sindicalismo

RESISTÊNCIA À DITADURA (II)


«Faltava cerca de mês e meio para o 25 de Abril de 1974. O último acto da presença ameaçadora da PIDE havia de acontecer a pouca distância deste local (GER Campos Melo) onde hoje evocamos os 40 Anos do 25 de Abril e lembramos testemunhos de resistência à ditadura do regime de Salazar e Marcelo Caetano.
 Foi ali ao cimo da Avenida de Santarém, na conhecida oficina do “Zé Gouveia”, onde trabalhava como carpinteiro e foi testemunha desse dia o colega de trabalho António Pombo que por sinal morava aqui bem perto (e acabou por ser companheiro nas primeiras eleições livre do Sindicato da Construção Civil). Quando menos esperava entra na oficina um polícia, pergunta por mim e vai de fazer interrogatório: o que é que eu fazia, o que deixava de fazer, onde residia...e até o nome dos pais e dos avós... Não é que me metesse medo. Eu que já tinha feito a guerra colonial, não era isso que me ameaçava... Mas revela como os cidadãos mais activos eram controlados e ameaçados. A PIDE há muito tempo sabia quem era o militante cristão que, na Covilhã, estava próximo do Padre Fernando Brito e tinha sido dirigente nacional da JOC – Juventude Operária Católica. Saberia com certeza que participava em acções de formação sindical, cívica e política organizadas pelo Centro de Cultura Operária e na distribuição clandestina de livros e outras publicações das “Edições Base”.
A PIDE sabia que eu tinha estado algum tempo a trabalhar no jornal “República” e no “Jornal do Fundão”. Em 1974 tinha passado uma década desde o meu primeiro “embate” com a chamada Polícia Política Defesa do Estado. Era eu então um jovem com 17 anos de idade mas ia já tendo alguma consciência política graças à “escola” da JOC. Foi em Gouveia (concelho de onde sou natural) nas obras de ampliação da fábrica têxtil “OS BELINOS”. Eu e a maior parte dos operários da obra protestávamos por nos obrigarem a comer com a marmita nos joelhos à beira da estrada. Exigíamos explicações antes de retomar o trabalho à 1h hora da tarde. E então o que é que aconteceu? Foi que, em vez de explicações, vieram os tipos da PIDE e foi um longo interrogatório – um por um... E no fim a sentença ameaçadora do chefe dos Pides: -”As coisas iam ficar assim porque não consideravam uma greve... se fosse uma greve iam todos presos porque Salazar não quer greves”!
 Fui daqueles que foi tendo sorte por não ter sido preso. O facto de ser militante católico parece que tinha alguma “atenuante”... E talvez por isso, não chegaram a levar-me para a prisão em Seia, no mês de Maio de 1972. Era então dirigente nacional da JOC. Aconteceu em Seia à porta da FISEL. Eram 3 horas da tarde e eu distribuía informações e vendia o jornal “Juventude Operária” aos trabalhadores de lanifícios que entravam e saíam no turno da tarde. Aparece a GNR e leva-me para o Posto onde me detêm duas horas. Interrogatórios, ameaças veladas... e por fim a confirmação do que já suspeitava. Eram ordens da PIDE da Guarda que controlava quase tudo e até as minhas viagens de lambreta entre a Beira Alta e a Beira Baixa. E ficamos por aqui.
Que todos os nossos testemunhos, hoje aqui presentes, possam contribuir para que a memória não se perca e também possam inspirar alertas para o futuro. »

José Manuel Figueiredo Duarte, 67 anos de idade Militante e dirigente da LOC/ Movimento de Trabalhadores Cristãos e da Base – Frente Unitária de Trabalhadores Covilhã, Abril de 2014



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