SINDICALISMO É UMA FORÇA E UMA VANTAGEM SOCIAL(I)
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SINDICALISMO É UMA FORÇA E UMA VANTAGEM SOCIAL(I)



Ocorre nos últimos tempos uma forte crise económica motivada pela globalização capitalista totalmente desprovida de preocupações de carácter social. O capitalismo aproveitando as circunstâncias deste momento histórico, tem sido o fomentador e o principal responsável pela mesma crise de que tira proveito, cujas principais consequências estão no empobrecimento progressivo de vastas camadas de população principalmente das mais débeis. Os trabalhadores vêm-se obrigados a perderem direitos, a reduzir as suas condições sociais, o que acaba no fundo por atingir toda a sociedade em geral.

O capital ao concretizar este modelo de globalização, aposta na redução dos

rendimentos do trabalho, permite e facilita as deslocalizações de empresas para

paraísos fiscais e ambientais e atinge o direito ao consumo, mesmo daquele que é

sustentável. Fazem-no sempre em nome do mercado e da lei da procura e da oferta.

Esta situação leva ao aumento da concorrência entre os produtos produzidos na Europa e

nos “paraísos”, fazendo crescer o número de desempregados e tornando o emprego cada

vez mais escasso nos países intermédios e nos desenvolvidos. As consequências fazem-se

logo sentir na diminuição ou destruição dos direitos sociais, condição fundamental para

a implementação de uma sociedade de carácter neo-liberal.

O desenvolvimento desta estratégia coloca debaixo de fogo a maioria dos trabalhadores

atacando os seus Sindicatos através de medidas legislativas adaptadas aos seus

objectivos neo-liberais. Assim, foram sendo eliminados ou reduzidos muitos direitos já

conquistados ao longo de muitos anos de sacrifícios e lutas. Considera-se que medidas de

desemprego maciço servem para domesticar os trabalhadores levando-os a aceitar mais

sacrifícios. Além disso, abriram-se campanhas de confusão sobre os seus direitos

adquiridos dando a ideia de que se trata de direitos menores, pouco legítimos, face á

crise. Pretendem destruir os direitos laborais à revelia da constituição porque nem

sequer se dignam respeitar os compromissos assinados em sede de concertação social

pelas partes, em especial aquela que diz respeito aos trabalhadores.

Esta estratégia tem ainda outra frente de ataque tentando credibilizar e instalar o

modelo neo-liberal. São os fazedores de opinião, nomeadamente através da manipulação

dos órgãos de comunicação social, muitos deles são propriedade dos grandes grupos

económicos ou interesses instalados.

SINDICATOS DEBAIXO DE FOGO

A organização Sindical é reivindicativa e defende os trabalhadores desde que foi criada

há muitos anos, por isso granjeou grande prestígio nas conquistas que alcançou na

negociação e na luta, dentro e fora das empresas. A sua existência é e tem sido uma

vantagem para os trabalhadores porque é uma organização representativa de pessoas e

colectivos, é activa e deve ser dirigida pelos próprios trabalhadores com total autonomia

e independência. É por isso que há um fortíssimo ataque aos Sindicatos pelo papel que

desempenham junto dos trabalhadores e da sociedade em geral, porque são a primeira

organizaçãoassociativa verdadeiramente vocacionada para a defesa dos trabalhadores,

mesmo aqueles que não são seus filiados estão abrangidos pelos benefícios e pelos

acordos negociados em contratação colectiva. A negociação dá garantias em muitas

matérias sociais como é o caso dos salários justos e dignos ou das garantias de acesso aos

direitos sociais mínimos já alcançados.

São os Sindicatos mais activos e conscientes, que mais lutam usando o seu poder

principalmente o da persuasão, arma usada muitas vezes sem terem os meios mínimos e

necessários para a acção Mas a razão e a vontade não têm deixado de motivar os

trabalhadores que de uma forma desigual, mas com os meios que possuem sempre

conseguem contrariar algumas tendências mais conformistas de abandono das causas e

das lutas por alguns Movimentos e Sindicatos mais conservadores.

Vivemos numa sociedade que ainda não beneficiou directamente dos enormes avanços

tecnológicos e capacidades produtivas agora ao seu alcance e que podem proporcionar

um melhor bem-estar e até garantir uma estabilidade nos empregos e nos direitos como

nunca antes foi atingido. Mas, o que se verifica é que se está a perder o futuro social ao

não se distribuir de forma justa as riquezas criadas pelos trabalhadores, a favor do

modelo de sociedade que só as distribui pelos accionistas e proprietários e apenas vê e

privilegia o desenvolvimento do “capital”.

Muitos políticos e economistas não se apercebem das desmotivações e receios existentes

no seio dos trabalhadores que actualmente sofrem sacrifícios e ameaças de

despedimentos, horários longos e mal pagos, deslocalizações e mesmo retaliações. Uma

nova chaga está chegar através do assédio moral nas empresas, levando muitos

trabalhadores ao stress e ao seu próprio suicídio.

Muitos trabalhadores aceitam penosamente os sacrifícios e partem mesmo para um certo

conformismo degradante para a sua auto-estima e o seu nível de vida. A mecanização,

automatização, a informática e novos métodos de gestão de recursos permitem como

eles dizem, dispensar (despedir) muitos milhares de trabalhadores em Portugal

ultrapassando o milhão (36% dos jovens dos quais 56% são mulheres). Por vezes os

trabalhadores são acusados de serem os causadores da crise pelo facto de alguns

receberem subsídio de desemprego, ou porque estão doentes e consomem

medicamentos, ou são velhos e recebem pensões, ou grávidas com licenças de

maternidade. Todos são apelidados de parasitas por inactividade que põe o país sem

capacidade competitiva. Os Sindicatos denunciam esta manipulação e querem um novo

crescimento da economia tomando em conta o desenvolvimento tecnológico e pondo-o

ao serviço também dos cidadãos.
 
Joao Lourenço, sindicalista e ex-dirigente da CGTP





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